É possível ensinar habilidades para as tarefas do futuro? Novos trabalhos, novas habilidades!


Por Ricardo Limão
Prática e teoria juntas, em conjunção perfeita, integrando-se com um só foco,
o resultado transformado em sucesso.

e Júlia Ramalho
Paixão por ajudar a transformar pessoas e organizações na sua melhor versão.

Nessa nossa jornada rumo ao futuro do trabalho três pontos já sabemos. O primeiro, que com o avanço da tecnologia muitos profissionais darão espaço às máquinas, mas novos trabalhos surgirão. O segundo, como acreditam Richard e Daniel Susskind, pai e filho, ambos professores na Universidade Oxford e autores do livro The Future of the Professions, neste novo cenário o conceito de profissão, como conhecemos até então, deixará de fazer sentido. Sendo assim, o terceiro ponto, é que para atuar nestas tarefas teremos que desenvolver novas habilidades.

Para quem ainda acha que este futuro está longe ou não passa de ficção cientifica, um estudo realizado pela IFTF (Institute for the Future) aponta que até 2030, daqui aproximadamente 12 anos, 85% das profissões serão novas, ou seja, ainda não foram inventadas. O que impactará a forma como buscamos e oferecemos nossa mão de obra. Especialistas, como Richard e Daniel Susskind, apontam a tendência das empresas buscarem pessoas para executar tarefas especificas e não mais ocuparem uma posição ou exercerem uma profissão.

Para mim, Ricardo Limão, que sou consultor na área educacional, este futuro já começa a se desenhar com a força de trabalho se tornando cada vez mais móvel, e a prestação passando a ser realizado de qualquer lugar. Ou seja, trabalho e a localização agora estão se tornando desagregados, algo impensável poucos anos atrás. (Já falamos um pouco sobre isso no post Gig work: uma nova forma de trabalho?). O grande impacto disso é um crescimento da demanda e o aumento na qualidade do serviço ofertado, as pessoas podem escolher projetos em qualquer lugar do mundo, enquanto as empresas podem selecionar os profissionais mais qualificados para realizar esse projeto.

Com este cenário que se configura aos nossos olhos, segundo Luis Gonçalves, presidente da Dell EMC Commercial no Brasil, empresa que solicitou a realização do estudo feito pela IFTF, afirma que as pessoas e as empresas que não se prepararem desde agora para esse novo mundo, dificilmente terão espaço no mercado.

Desenvolvendo novas tarefas, surgimento de novas habilidades. Como nos qualificar para o futuro?

Nós acreditamos que a qualificação técnica sempre será importante, mas não será a condição única para uma pessoa realizar uma tarefa. Além da competência específica na sua área de atuação, esse profissional passa a ter que se preocupar cada vez mais com o desenvolvimento da sua ‘inteligência social’, um conjunto de habilidades que estão além do currículo formal.

O professor Vicente Caball, doutor em psicologia, ressalta ‘habilidades sociais’ como o conjunto de capacidades comportamentais aprendidas e que fundamentam as interações sociais. Sendo assim, a habilidade que dá base a toda interação social é a comunicação (verbal, gestual e corporal). Mas é a comunicação além de transmissão de uma mensagem, é a capacidade de ‘ler’ o interlocutor e o ambiente, de entender o mapa mental da pessoa (ou pessoas) com quem estamos nos relacionando. Além da comunicação, outras habilidades são igualmente importantes e precisam ser desenvolvidas, como o posicionar-se, a empatia, o pensar conjuntamente, entre outras.

Essas habilidades podem ser ensinadas e aprendidas. Para aqueles que estão já no mercado de trabalho e devem se adaptar a esse novo mercado profissional, o conceito de andragógicos vem se destacando. Na década de 70, Malcolm Knowles, pesquisador e um dos principais educadores de adultos de toda a história, definiu a andragogia como a arte que estuda a educação para adultos com o objetivo de atingir uma aprendizagem capaz de desenvolver habilidades. Em sua visão sobre o conceito, voltado mais para o mundo corporativo, o pesquisador acreditava que a metodologia utilizada para ensinar um adulto deve ser de colaboração, autonomia e de autogestão da aprendizagem.

Nesse caso, a teoria não é suficiente. Isso porque, o conhecimento do aprendiz é tão importante quanto o conhecimento de quem ensina. Quando se fala no ensino das habilidades sociais esse fator é importantíssimo, pois todas as experiências de vida e valores pessoais contribuem para o desenvolvimento dessas habilidades. Nesse conceito não cabe a inflexibilidade e as respostas prontas, que são muito utilizadas na metodologia de hoje, nas escolas tradicionais.

A andragogia pode ser uma grande aliada na educação corporativa; em treinamento de equipes. Sua metodologia é focada em conhecer quem é o “aluno”, entendendo o que ele espera, como age e seus desejos. Compreendido quem é esse adulto, elabora-se uma estratégia personalizada para potencializar a qualidade do ensino e os resultados.

Para isso, o professor/instrutor deve estar atento aos seis princípios fundamentais para aplicar melhor a Andragogia, são elas:

  1. Os adultos precisam saber a razão do porquê aprender algo e quais resultados serão obtidos;
  2. eles são capazes de fazer suas próprias escolhas;
  3. suas experiências anteriores são a base de seu aprendizado;
  4. o estudo fica mais fácil quando o adulto percebe que o conteúdo será útil em seu cotidiano;
  5. fatos, aplicabilidade e resultado são fatores importantes e determinantes para o aprendizado;  
  6. fatores motivacionais impulsionam a aquisição do conhecimento.

Sabendo disso, as empresas podem potencializar treinamentos de seus funcionários e desenvolver habilidades importantes que serão uteis nas novas tarefas destinadas ao homem realizar.

Do outro lado, a escola, local no qual a nova geração vem sendo formada, precisa estar atenta aos novos rumos que a sociedade digital estabelece. A instituição de ensino precisa ser repensada para atender a esta nova realidade. Dentro desse contexto pedagógico é preciso acelerar e requalificar quem está inserido nesse processo de ensino para que possa lidar com os desafios da comunicação no ambiente escolar face a sociedade digital.

Devemos sair da miopia do sistema educacional atual, no qual é importante passar e conseguir uma boa nota no ENEM. A questão hoje é preparar os jovens para este novo mercado de trabalho. O grande agende que pode fazer isso é a escola, por ser o local onde concentra essa geração que vem se formando. Além de ser um lugar de oportunidade de daquele profissional docente, que vem de um paradigma diferente, entender este novo paradigma e se desenvolver também.


Júlia Ramalho reside em Belo Horizonte (Brasil) e ajuda pessoas e organizações a revelarem o seu melhor, ao clarear propósitos, ver possibilidades diante das incertezas e manter foco nas ações necessárias. Faz isso há mais de 18 anos por meio de atendimentos em coaching e clínicos. Possui formação como psicóloga, coach e administradora, sendo também mestra nessa última área. Desde 2005 vem investigando as novas tecnologias e seus impactos sobre o trabalho e as futuras gerações. Como gestora, dirige a Estação do Saber [www.estacaodosaber.com] e foi presidente fundadora da International Coach Federation – Chapter Minas. Coordenou projetos de discussão sobre as novas tecnologias (ETC_BH -2009 a 2013) e de transformação da nossa cultura e sociedade (Estação Pátio Savassi – 2005 a 2013). Atualmente se dedica à construção de uma metodologia de orientação de carreiras através de conhecimentos de coaching, design thinking e análise de forças tecnológicas como inteligência artificial, internet das coisas e realidade virtual, dentre outras. Coordena e participa do grupo designers do futuro, que tem por objetivo promover discussões sobre o impacto dessas tecnologias em carreiras, gestão e sociedade.

RICARDO LIMÃO
Somam-se 25 anos de experiência como empreendedor, administrador de empresas e docente. Professor licenciado em Matemática, titulado em Educação Matemática pela PUC-SP e practitioner em Programação Neurolinguística certificado pela SBPNL; especializado em produtividade e competitividade de equipes e no planejamento e desenvolvimento de programas especiais de treinamento; como gestor educacional atuou nas maiores instituições de ensino superior. Co-autor do livro Crescer em Sabedoria: Matemática para o 9º ano, para o Sistema Mackenzie de Ensino. Traz ainda na bagagem a criação de materiais didáticos junto aos mais importantes sistemas de ensino e casas editoriais.

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