Qual será o futuro do emprego? Novos trabalhos, novas habilidades!


Por Júlia Ramalho
Paixão por ajudar pessoas e organizações a revelarem o seu melhor,
 a inovar e ver oportunidades diante das incertezas do futuro.


A tecnologia é uma realidade evolutiva que vem modificando nossas vidas e, principalmente, o mercado de trabalho. Essa afirmação não é nova por aqui, já falamos sobre esse fato e algumas de suas consequências em diversos posts. É certo que muitas das profissões e funções exercidas pelos homens hoje, em um futuro não muito distante, deixarão de existir ou serão realizadas pela tecnologia. Na verdade, isso já vem acontecendo!

Em outro post até questionei se seria o fim do trabalho. A conclusão a que chegamos é que sim, será o fim do trabalho, mas o fim do trabalho como o conhecemos hoje. Não só por já existir uma sinalização para a mudança de nossa relação com o trabalho, mas porque muitos trabalhos exigirão de nós outras habilidades. Isso não é apenas uma constatação minha! Um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (em inglês: Massachusetts Institute of Technology - MIT) aponta que à medida que os sistemas de inteligência artificial (IA) se tornam mais sofisticados, novos empregos/trabalhos são criados, exigindo novas habilidades e treinamentos. A pesquisa revela ainda o surgimento de três novas categorias de emprego nas quais os homens completarão tarefas executadas pela tecnologia cognitiva: treinadores, explicadores e sustentadores.

A primeira categoria, a dos treinadores, ensinará aos sistemas de IA como devem funcionar de modo a se relacionar com os humanos recorrendo à quantidade apropriada de compreensão, compaixão e até humor. Nessa categoria, existirão as funções de tutor de linguagem e significado do idioma do cliente, modelador de interação de máquina inteligente e instrutor de visão de mundo.

Os explicadores serão os profissionais responsáveis por fazer a ponte entre tecnólogos e líderes empresariais. Ou seja, eles explicarão o funcionamento interno de algoritmos complexos a profissionais não técnicos. Nessa categoria, o homem exercerá as profissões de designer de contexto, analista de transparência e estrategista de utilidade de IA.

Já os sustentadores ajudarão a garantir que os sistemas de IA operem conforme o planejado e que as consequências não intencionais sejam abordadas com a devida urgência. A pesquisa explica que “indivíduos nesse papel agirão como uma espécie de cão de guarda e ombudsman para defender normas de valores e moral humanos – intervir se, por exemplo, um sistema de IA para aprovação de crédito estiver discriminando pessoas em certas profissões ou áreas geográficas específicas”. O homem vai atuar como especialista em automação, economista de automação e gerente de relações de máquina.

Dessa forma, como afirmei anteriormente, as questões éticas estarão cada vez mais em pauta na nossa sociedade. Afinal, se estamos mais tecnológicos e poderosos, é preciso refletir sobre as consequências do que estamos criando, sobre como isso está nos orientando. Não há “tecnologia pura”: a aplicação e a orientação de uma tecnologia devem ser sempre acompanhadas das questões “para que?”, “por quê?” e “com que consequências?”.

O ponto ao qual quero chegar, e que a pesquisa também abordou, diz respeito às habilidades necessárias para atuar nessas novas profissões. Como já conversamos por meio do artigo “Faltam habilidades para o mercado de trabalho?”, as habilidades exigidas hoje pelo mercado de trabalho não são as mesmas de alguns anos atrás e, com toda certeza, não prevalecerão no futuro no qual essas novas profissões vão existir. Hoje, o diploma e o conhecimento técnico são importantes, mas não têm tanto peso diante de outras habilidades. Os requisitos educacionais tradicionais poderão ser questionados para a formação de algumas dessas novas profissões, enquanto outras precisarão de graus avançados e de conjuntos de habilidades altamente especializados.

A grande questão é identificar onde e como esses trabalhadores serão treinados. Assim como já sinalizei que será necessário um grande envolvimento do poder público e das empresas para acelerar o desenvolvimento dessas novas habilidades, o estudo do MIT concluiu que a resposta para essa questão precisa começar com as próprias operações de aprendizado e desenvolvimento de uma organização.

A brasileira Tonia Casarin, vencedora do prêmio da Singularity University, defende que as habilidades socioemocionais são a chave para se adaptar ao mundo nas próximas décadas. Essas habilidades devem ser desenvolvidas nas escolas, faculdades, entres as crianças, jovens, adultos e até CEOs. Essas competências não técnicas serão as responsáveis por ajudar os profissionais do futuro a se diferenciarem das máquinas e a se adaptarem a cada nova tecnologia que surgir.

Para mim, a mais importante habilidade, que é muito mais que uma habilidade, será a necessidade de sujeitos éticos e responsáveis, aspecto que tenho explorado em meus workshops de ética para executivos e que pretendo abordar em profundidade em outro post.

Mas não é só isso. Assim como os profissionais terão que se preparar para atender às novas necessidades do mercado profissional, as empresas, segundo o estudo do MIT, terão que repensar seus processos de recrutamento e de retenção de profissionais altamente qualificados e em alta no mercado.

O que podemos concluir é que os desafios que nos esperam são muitos. Não só os profissionais, mas também as empresas e governos, terão que se adaptar a esse novo cenário e se preparar para ele. Antecipar as tendências e demandas desse futuro que se desenha é uma necessidade imediata. Você está preparado para este futuro?


Júlia Ramalho reside em Belo Horizonte (Brasil) e tem paixão por ajudar pessoas e organizações a revelarem o seu melhor, a inovar e ver oportunidades diante das incertezas do futuro. Faz isso há mais de 18 anos por meio de atendimentos em coaching e clínicos. Possui formação como psicóloga, coach e administradora, sendo também mestra nessa última área. Desde 2005 vem investigando as novas tecnologias e seus impactos sobre o trabalho e as futuras gerações. Como gestora, dirige a Estação do Saber [www.estacaodosaber.com] e foi presidente fundadora da International Coach Federation – Chapter Minas. Coordenou projetos de discussão sobre as novas tecnologias (ETC_BH -2009 a 2013) e de transformação da nossa cultura e sociedade (Estação Pátio Savassi – 2005 a 2013). Atualmente se dedica à construção de uma metodologia de orientação de carreiras através de conhecimentos de coaching, design thinking e análise de forças tecnológicas como inteligência artificial, internet das coisas e realidade virtual, dentre outras. Coordena e participa do grupo designers do futuro, que tem por objetivo promover discussões sobre o impacto dessas tecnologias em carreiras, gestão e sociedade.

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