Gig work: uma nova forma de trabalho?


Por Júlia Ramalho
Paixão por ajudar a transformar pessoas e organizações na sua melhor versão.

Em um ano o desemprego no Brasil amentou 12,5%. Segundo o IBGE, o número de trabalhadores sem uma ocupação formal passou de 11,76 milhões na média de 2016 para 13,23 milhões em 2017. Somado a isso, a crise econômica, reforma trabalhista e a facilidade nas relações estimuladas pela tecnologia, vem impulsionado a GIG Economy.

A GIG Economy - também conhecida como economia sob demanda, freelance economy, GIG work ou simplesmente de “bico” -  é uma relação de trabalho que compreende, de um lado, profissionais temporários de vários segmentos e sem vínculo empregatício e, de outro, empresas ou pessoas que contratam esses trabalhadores independentes para serviços pontuais. Nesse sentido, essa relação não é apoiada em contratos de trabalho de longo prazo. Com isso, quem contrata fica isento de impostos e regras descritas em leis trabalhistas. Já o profissional, pode escolher quando, quanto e de onde desejam atuar.

A Manpowergroup, empresa de recrutamento do Reino Unido, pesquisou 9.500 trabalhadores de 12 países sobre como eles gostariam de trabalhar. A conclusão é que 87% desses profissionais pesquisados estão abertos ao que eles chamam de Netgen work (ou GIG work) e querem escolher a forma de contrato de trabalho, atendendo com flexibilidade a uma grande demanda. Eles entendem que as coisas estão mudando e querem trabalhar, aprender mais e também ter equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Saiba mais sobre a pesquisa aqui.

Já dados da economia norte-americana apontam um crescimento significativo desses trabalhos informais em apenas uma década. Em 2005, a relação de trabalhos com contratos temporários/freelancers era de 10,1% e avançou, em 2015, para 15,8%. Já é previsto, de acordo com um estudo da Intuit Research, consultoria que realiza pesquisas de mercado, que até 2020 a GIG Economy compreenderá 40% dos trabalhadores americanos.

E o Brasil com isso?

Segundo dados do IBGE, o número de pessoas que trabalha por conta própria ou em vagas sem carteira assinada superou o daqueles que têm um emprego formal. Ou seja, em 2017, 34,31 milhões de pessoas passaram a trabalhar por conta própria ou sem carteira, contra 33,32 ocupados em vagas formais.

Nesse sentido, em tempos de aceleração das novas tecnologias, de economia globalizada e recessões econômicas, a chamada GIG economia e Nextgen work é um movimento mundial e, ao que tudo indica, veio para ficar! Tudo indica que a grande força dessa tendência é a digitalização do trabalho.

E você com isso? 

Se você está se formando para atuar futuramente no mercado de trabalho ou ainda está trabalhando (se você ainda não se aposentou), isso tem tudo a ver com você! Você pode estar pensando: “sempre existiu ‘bico’ e sempre ouve trabalho ‘freela’, afinal qual a novidade? “.

Esse tipo de relação (freelance/autônoma) sempre existiu sim, mas vem crescendo e se tornando uma tendência em todo mundo na era digital. Se estamos vivendo num mundo cada vez mais digital e global por que as formas de trabalho continuariam as mesmas?


Mesmo que você ainda não tenha ouvido falar de GIG economia (GIG Economy), do trabalho Nextgen ou GIG work o fato é que a internet tem ajudado no crescimento desse tipo de economia e tem potencializado a criação de novas formas de trabalho, seja aqui, nos EUA, no Reino Unido ou em outros países.

Como se favorecer do GIG work? 

Primeiro passo é entender que hoje há trabalhos em vários lugares do mundo usando plataformas digitais. Um exemplo claro de negócio que gera GIG work muito conhecida e utilizada pelo brasileiro é a Uber. Essa plataforma, um aplicativo de celular, ajuda pessoas que querem ir a um determinado lugar na cidade a encontrar motoristas que estão dispostos a levá-las. Essas pessoas não contratam motoristas com salários fixos, mas pagam pelo serviço sob demanda. Nesse sentido, o motorista pode até trabalhar integralmente para a Uber, oferecendo todo seu tempo para eles, mas pode também oferecer parte de seu tempo.
Só para se ter uma ideia desse mercado, o número de motorista ativos no aplicativo Uber de 2016 para 2017 saltou de 50 mil para 500 mil no Brasil.  
Mas não só de plataforma de motorista se faz a GIG Economy! Comunicação, design, TI, arquitetura, logísticas, coaching, terapias, médicos, advogado, entre outros mercados, já estão dentro dessa tendência. Hoje encontramos plataformas que “emprestam” visibilidade e credibilidade aos profissionais de vários mercados. Alguns exemplos dessas plataformas são: Freelancer, Workana, GetNinjas e Prolancer.

Ainda há outras plataformas focada em um segmento, como: Alltleta, que conecta pessoas que querem se exercitar aos profissionais de educação física, e VidaClass, plataforma online que conecta médicos aos pacientes e reduz custos de serviços de saúde. Há soluções para advogados como o Diligeiro, e também há soluções na educação como a Udacity. Essa última plataforma de cursos on-line contrata freelancers sob demanda para fazer a grade de seus cursos que, muitas vezes, nem existem em universidades.

Qual a preocupação devo ter com o GIG work nessa GIG economia?

O principal ponto negativo é a falta de estabilidade de trabalho e falta de uma renda fixa. Fica sob sua responsabilidade a questão de organizar as demandas do trabalho enquanto as executa, pois se você parar de buscar novos trabalhos corre o risco de não ter uma nova demanda e renda.  É preciso ter controle financeiro, pois não estão assegurados o 13º salário e as férias. Além disso, é preciso de uma reserva para os momentos em que faltam demandas.

Há ainda uma questão do valor pago por hora de trabalho que, muitas vezes, pode ser abaixo do mercado. As plataformas ganham na oferta abundante do serviço. No universo on-line há uma infinidade de pessoas acessando essas plataformas, mas, por isso mesmo, pode-se pagar menos pelo serviço prestado. Se é você quem está trabalhando, pode ter mais trabalho, mas pode receber menos pela hora trabalhada.

A preocupação com a qualidade do trabalho tende a aumentar. A opinião e avaliação do trabalho dadas pelos usuários/clientes on-line nessas plataformas é ponto importante para atrair novos clientes. Em alguns momentos você deverá aprender a lidar com o trabalho de uma equipe on-line. Não necessariamente com estruturas rígidas de gestão, mas com equipes onde cada um deve saber seu papel e ter agilidade para contribuir.

Quais as consequências dessa economia a curto e longo prazo

É difícil prever as mudanças que a GIG Economy vai acarretar para as próximas gerações de trabalhadores e para o mercado, mas a principal característica é a fluidez. Ou seja, é um mercado em que existe um elevado grau de adaptabilidade entre a oferta e a procura. Ela pode criar novas condições de trabalho, mas muito se discute que não necessariamente seriam em condições dignas.

Uma pesquisa feita com 21 mil freelancers, em 170 países, indica que os valores pagos aos trabalhos de freelancers mundialmente ficam abaixo dos valores do mercado. Por outro lado, elas podem ajudar a pessoas maduras e experientes a conseguirem trabalho. A mesma pesquisa mostrou que embora 50% das pessoas que atuam nesse mercado sejam jovens abaixo dos 30 anos, os seniores, acima dos 50, também tem participado. Veja a pesquisa aqui.

Dentre os pontos críticos para essa nova economia e tipo de trabalho é a questão da precarização das condições do mesmo. Já existe discussões sérias no Reino Unido sobre o impacto da GIG economy para se pensar a sociedade como um todo. Veja mais sobre.

Aqui no Brasil, diante das reformas trabalhistas que vão sendo aprovadas, muitos tem denunciado essa precarização que ocorre através do trabalho informal. Essas questões foram até tema para nossas escolas de samba vencedoras do carnaval do Rio 2018, não é mesmo?

Em resumo, é importante entendermos que o mercado de trabalho, as relações humanas e muitas profissões estão passando por grandes modificações. Ao que tudo indica, a sociedade digital veio para ficar e está transformando todas essas relações. Como profissionais, devemos estar atentos a essas mudanças e como isso poderá influenciar e afetar nossas profissões e carreiras.

Com toda essa flexibilidade, é hora de encontrarmos o propósito do nosso trabalho. Em certa medida, o mundo digital talvez esteja aumentando a possibilidade de sermos mais felizes no que queremos fazer. Podemos expandir as fronteiras de nossa profissão a um custo quase zero e ter liberdade de executar os trabalhos de onde e quando quisermos. Mais do que nunca temos a possibilidade de nos reinventarmos. Mas, também, sem esquecer de nos organizarmos para exigir formas dignas e justas para executar esses trabalhos que tende a ser cada vez mais digitais. Não só como trabalhadores, mas como agentes sociais e cidadãos também há muito o que fazer!


Ajudei? 
Espero que sim! O que você achou dessas transformações? Já trabalha como freelancer? Você usa alguma plataforma para divulgar seu trabalho? Qual plataforma usa? Quais problemas você tem enfrentado? Conte para mim nos comentários abaixo suas experiências com a GIG Economy.


Júlia Ramalho reside em Belo Horizonte (Brasil) e ajuda pessoas e organizações a revelarem o seu melhor, ao clarear propósitos, ver possibilidades diante das incertezas e manter foco nas ações necessárias. Faz isso há mais de 18 anos por meio de atendimentos em coaching e clínicos. Possui formação como psicóloga, coach e administradora, sendo também mestra nessa última área. Desde 2005 vem investigando as novas tecnologias e seus impactos sobre o trabalho e as futuras gerações. Como gestora, dirige a Estação do Saber [www.estacaodosaber.com] e foi presidente fundadora da International Coach Federation – Chapter Minas. Coordenou projetos de discussão sobre as novas tecnologias (ETC_BH -2009 a 2013) e de transformação da nossa cultura e sociedade (Estação Pátio Savassi – 2005 a 2013). Atualmente se dedica à construção de uma metodologia de orientação de carreiras através de conhecimentos de coaching, design thinking e análise de forças tecnológicas como inteligência artificial, internet das coisas e realidade virtual, dentre outras. Coordena e participa do grupo designers do futuro, que tem por objetivo promover discussões sobre o impacto dessas tecnologias em carreiras, gestão e sociedade.

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