A comunicação e sua importância para o trabalho


Por Júlia Ramalho
Paixão por ajudar a transformar pessoas e organizações na sua melhor versão
e
 Lucas Gaetani
Aprendiz em ajudar as pessoas e organizações a se comunicarem melhor


Algumas coisas nos têm chamado a atenção quanto ao papel da comunicação para o trabalho. Não nos referimos à comunicação das instituições nem à publicidade. Aliás, no post passado essa temática foi abordada por meio de uma entrevista com Luiz Buono. Sabemos que essa comunicação está em processo de mudança e que há várias tendências pautando as novas estratégias para as organizações. Mas, neste momento, ao falarmos em comunicação estamos pensando em uma competência humana para o trabalho, em um elemento que pode destacar um candidato em um processo seletivo e que é um recurso essencial para expor ideias. Nossa impressão é que há, atualmente, um déficit nas habilidades de comunicação das pessoas.

Esses foram os pontos que, em nossas conversas e vivências, começamos a ligar:
  • Tornou-se comum que, desde meados de 1990, em todas as organizações nas quais eu, Julia, trabalhei, as pessoas dissessem: “aqui temos problema de comunicação”. Lembramo-nos de Bauman, em Modernidade Líquida, falando do aumento da intolerância e da dificuldade que as pessoas têm em se comunicar nas sociedades modernas, nas quais os espaços públicos não são espaços de convívio, mas, sim, de civilidades.
  • Percebemos, nas leituras e pesquisas que temos feito sobre treinamentos e qualificação do profissional do futuro, que todas abordam a importância da comunicação. Em uma dessas leituras, o autor comentava que a dificuldade de comunicação chega ao ponto de um candidato em processo de seleção não saber o que fazer quando vai se atrasar para a entrevista. Deve falar alguma coisa? Outro, ainda, tinha dúvidas sobre o que iria vestir.
  • Encontram-se, na maioria das plataformas de treinamento on-line para qualificação profissional, cursos voltados a aperfeiçoar o ato de “falar em público” e melhorar a comunicação.
  • Eu, Lucas, que sou estudante de psicologia e diretor de marketing da Empresa Júnior de RH (Psicologia UFMG), no ano passado tive 190 inscritos para uma palestra sobre “Como falar em público”. Essa alta demanda se reflete também no número crescente de pessoas que procura a Empresa Júnior de RH pedindo ajuda para se prepararem para entrevistas e para saber como podem se apresentar melhor profissionalmente.

Será que sempre foi assim? Ou nosso modo de comunicação está piorando e a demanda por dominar essa capacidade está aumentando?

Não há dúvidas de que a comunicação é uma competência ampla e complexa. Isso porque sabemos que, no fundo, a comunicação não é algo instrumental. Ou seja, não existe uma fórmula pronta para nos comunicarmos melhor. Esse é um processo que envolve saber o que se quer expressar e encontrar as melhores formas para fazê-lo, recorrendo ao número cada vez maior de recursos criativos que temos ao nosso dispor. Além disso, é preciso ser capaz de criar conexão com quem se comunica. Neste sentido, comunicar é também se relacionar!

A comunicação é hoje uma grande aliada para nos destacarmos profissionalmente. É por ela que temos a possibilidade de contar nossas histórias. É por ela que manifestamos nossas expectativas, resolvemos conflitos e conseguimos participar de um grupo. É por ela que motivamos e engajamos as pessoas de uma equipe. Além disso, bons comunicadores são, em geral, pessoas que sabem ouvir, que são capazes de sair de si mesmos para se conectarem com o outro. E isso ajuda a gerar empatia.

Esses são alguns dos motivos que fazem com que a comunicação seja, a cada dia, mais importante. Mas, paradoxalmente, parece que nossa habilidade de expressar aquilo que queremos – talvez por não sabermos o que é isso – e de nos conectarmos com os outros está cada vez menor. Essa situação, de certa forma, equivale àquilo que Bauman previu como resultado de uma sociedade na qual os espaços para que nos encontremos com o diferente diminuem progressivamente.

E quando pensamos no futuro do trabalho e na evolução das novas tecnologias exponenciais? Sabemos que muitas funções e profissões que hoje são realizadas pelos seres humanos passarão para as mãos das máquinas. Uma pesquisa realizada pela empresa Gartner apontou que até 2020 as pessoas falarão mais com máquinas (bots) do que com seus companheiros.

Será que, nesse contexto, a comunicação perderá importância? Acreditamos justamente no contrário: saber se comunicar bem passará a ser um diferencial ainda mais relevante, fundamental para gerar conexão, facilitar o trabalho em equipe e promover sua visão e contribuição. Afinal, reduzir a comunicação à simples troca de informações pode ser o grande problema contemporâneo. Nas redes sociais, por exemplo, estamos falando mais, mas estamos efetivamente nos comunicando? Estamos dialogando, ouvindo e sendo ouvidos?  Estamos de fato contando nossas histórias?

Para que isso de fato aconteça, a comunicação não pode ser entendida como uma simples troca de signos, e sim como a capacidade de fazer ressoar ideias e emoções, como a real capacidade de conectar as pessoas. E isso, para qualquer profissão, será um grande diferencial no mercado de trabalho.

A importância da comunicação no processo seletivo de emprego

Optamos por destacar dois pontos importantes que temos trabalhado em processos de treinamento para melhorar entrevistas de emprego. Como falamos, isso não é uma fórmula pronta, mas acreditamos que são aspectos que podem te ajudar a organizar melhor suas ideias e se sobressair nesse momento.

1. Destaque as suas habilidades e torne-as únicas em sua fala na entrevista de trabalho.

Em linhas gerais, o que uma pessoa precisa fazer para ter sucesso em uma entrevista de emprego é passar o máximo de segurança possível ao entrevistador/recrutador, que está, ele mesmo, em uma posição de insegurança: afinal, diante dos candidatos que estão participando do processo, ele terá que optar por uma pessoa. Trabalhar a própria segurança, seja pelo tratamento psicológico, seja na prática com um amigo ou com familiares, pode ajudar bastante no processo. Nesse sentido, é importante que você treine suas respostas para as perguntas mais realizadas nas seleções de emprego: quais seus pontos fortes e fracos? e que resultados você alcançou em seus empregos anteriores? Não deixe, também, de se preparar para outras perguntas frequentes.

Geralmente, o máximo que você vai perder em uma seleção de emprego são 15 a 20 minutos do seu dia. Então, não deixe que a insegurança te impeça de buscar realizar seus desejos: faça parte do máximo de processos seletivos que te interessem. E é o seu interesse uma das chaves para o processo de seleção: uma excelente forma de ter sucesso em uma entrevista é você saber com quem está falando. Não nos referimos aqui à pessoa que está te entrevistando, mas sim à instituição que promove a seleção. Se você está tentando fazer parte de uma empresa, conhecer os valores, as metas e a cultura da organização é um passo fundamental. Afinal, o que eles estão procurando é alguém que se encaixe nisso tudo: as empresas precisam de uma equipe competente mas, fundamentalmente, de uma equipe que esteja alinhada com seus valores. Assim, visite o site da empresa antes de enviar seu currículo ou mostrar algum interesse pela vaga.

2. Use elementos de storytelling e técnicas narrativas para fazer sua história ser lembrada.

Você já ouvir falar em storytelling? É uma estratégia muito utilizada por publicitários que significa a capacidade de contar histórias de maneira relevante e envolvente. Ou seja, é um modo de você mostrar para uma pessoa que aquilo que você está dizendo faz algum sentindo para ela também. E essa estratégia pode ser utilizada nas entrevistas de emprego!

Selecionamos a seguir quatro dicas para você contar uma boa história sobre si mesmo e conquistar o emprego que tanto quer:

  1. Autoconhecimento
    Para falar com propriedade sobre um assunto, pessoa ou tema, o ideal é que você o conheça muito bem. Por isso, antes da entrevista reflita sobre o que você gosta, sobre os motivos pelos quais deseja trabalhar naquela empresa e sobre aqueles pelos quais escolheu esta ou aquela profissão, sobre suas principais habilidades.
  2. Colocar-se como a solução do problema da empresa
    Coloque o foco de sua narrativa no problema do empregador e se apresente como uma solução potencial para esse problema. Por que você é a melhor escolha para o problema da empresa? O que você pode fazer para ajudar? Sabemos que o seu objetivo na entrevista é conquistar a vaga e obter uma renda, mas no momento da seleção adapte seu discurso às necessidades da empresa contratante. Isso não quer dizer que você deva mentir ou inventar, mas sim destacar em sua história aquilo que mais interessa à empresa naquele momento. 
  3. Eu e nós
    Utilize “eu” para evidenciar suas habilidades e experiências do passado mas, quando for falar do futuro e de como você pode contribuir para a equipe e a empresa, use o “nós”.
  4. Objetividade

    Por fim, seja o mais objetivo e transparente possível. Muitas vezes, as pessoas tentam falar demais para responder às perguntas do recrutador, o que pode ser entendido como “enrolação”. Viu como a comunicação é fundamental, juntamente com a segurança e o pensamento analítico? Não prolongue suas respostas dando muitos detalhes: aponte as informações principais e, apenas se solicitado, apresente qualquer detalhamento.

Após todas essas reflexões, a conclusão a que nós chegamos é que a comunicação é uma das habilidades mais importantes do universo profissional. Essa relevância se deu no passado, se dá no presente e existirá no futuro. E ressaltamos: as pessoas que sabem se expressar bem são também aquelas que sabem ouvir bem. Essas pessoas têm uma maior capacidade de adequação e de adaptação às situações novas que lhes aparecem, o que nos leva a acreditar que a melhoria da capacidade de comunicação gera também uma maior flexibilidade profissional.

O que acha de investir nisso e melhorar sua habilidade de comunicação? O que você tem feito neste sentido?


Júlia Ramalho reside em Belo Horizonte (Brasil) e ajuda pessoas e organizações a revelarem o seu melhor, ao clarear propósitos, ver possibilidades diante das incertezas e manter foco nas ações necessárias. Faz isso há mais de 18 anos por meio de atendimentos em coaching e clínicos. Possui formação como psicóloga, coach e administradora, sendo também mestra nessa última área. Desde 2005 vem investigando as novas tecnologias e seus impactos sobre o trabalho e as futuras gerações. Como gestora, dirige a Estação do Saber [www.estacaodosaber.com] e foi presidente fundadora da International Coach Federation – Chapter Minas. Coordenou projetos de discussão sobre as novas tecnologias (ETC_BH -2009 a 2013) e de transformação da nossa cultura e sociedade (Estação Pátio Savassi – 2005 a 2013). Atualmente se dedica à construção de uma metodologia de orientação de carreiras através de conhecimentos de coaching, design thinking e análise de forças tecnológicas como inteligência artificial, internet das coisas e realidade virtual, dentre outras. Coordena e participa do grupo designers do futuro, que tem por objetivo promover discussões sobre o impacto dessas tecnologias em carreiras, gestão e sociedade.

Lucas Gaetani, estudante de psicologia da UFMG e membro do Movimento de Empresas Juniores, é um pesquisador sobre o tema de comunicação interpessoal e organizações.


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