Repensando a carreira: devo mudar de profissão?



Por Júlia Ramalho
Transformadora de pessoas e empresas na sua melhor versão

Angústia, desânimo e falta de motivação, esses são alguns sinais que devem colocar o profissional em alerta e fazê-lo refletir sobre o rumo de sua carreira e o trabalho que vem realizando. Diante disto, a primeira pergunta que lhe faço é se você está satisfeito com sua profissão, carreira e trabalho?

Se sua resposta foi não, saiba que não está sozinho! Um estudo encomendado pela Giacometti Comunicação, produzido em 2016 e divulgado o ano passado, mostra que 52% dos brasileiros na faixa dos 30 anos não estão felizes com a carreira. Em outra pesquisa, realizada pelo Instituto Locomotiva, aponta que 18,7 milhões de trabalhadores formais pretendem mudar de seu atual emprego. Apenas 1/3 dos brasileiros se dizem satisfeitos de forma geral com o trabalho.

As razões para essa insatisfação são muitas, como a falta de novos desafios, a não expectativa de crescimento, o ambiente de trabalho, a escolha incorreta pela profissão. Aliado a isso, as novas tecnologias, que já estão aí, prometem eliminar e/ou modificar por completo muitas das profissões, contribuindo para um cenário de angústia e medo. Só para ter uma pequena noção do que nos espera, segundo estimativas da consultoria McKinsey, quase 16 milhões de trabalhadores brasileiros serão afetados pela automação até 2030. (Vamos falar mais sobre essa questão da tecnologia e o trabalho? Como posso te ajudar nesse sentido? Quais são suas dúvidas? Deixe nos comentários!).

Diante deste cenário proponho a você a repensar 6 pontos fundamentais em sua profissão e/ou trabalho. Vamos lá?
  1. Ao responder à questão no início deste texto você conseguiu diferenciar se sua insatisfação é com o trabalho que vem desenvolvendo, com a profissão que escolheu ou com a carreira que traçou? Saber fazer essa distinção pode ser um caminho rumo a solução do seu problema. Você pode achar chato seu trabalho, mas nem sempre isto é motivo para mudar de profissão. Às vezes você está insatisfeito, por exemplo, em ser um médico clínico por achar monótona e solitária a rotina desta especialidade, mas existem várias formas de atuação para essa profissão. Quem sabe a satisfação não está em atuar na medicina como pesquisador, professor, gestor na área de saúde, empreendedor? Ou seja, você não precisa largar a medicina, mas, sim, experimentar um novo trabalho nesta profissão.
  2. Você já viu à sua volta as transformações do mercado? Talvez a possibilidade de ser mais feliz no que se faz está em expandir as fronteiras de sua profissão. O que quero dizer é que muitas vezes pensamos em nossos ofícios com o foco para as funções que estamos exercendo ou como a profissão foi sendo estabelecida. É importante entendermos que nesse momento as fronteiras das profissões estão mais fluidas. Por exemplo, um mediador ele é hoje oriundo de qual profissão? Ele tem formação própria, mas muitas vezes vem de uma profissão anterior, como psicólogo ou advogado. Neste sentido, a formação de origem pode estar se expandindo para novos trabalhos e formações, não é mesmo?
  3. Sem perspectiva de crescimento, você acha que está no topo da carreira e que não tem mais o que aprender? Aí temos um grande problema! As profissões vão mudar muito rápido, aliás, já estão mudando, e por mais que você tenha uma posição executiva e carreira sólida não quer dizer que você não tenha mais o que aprender. Você sabia que já existem vários “data journalists” no jornal New York Times? Esta é uma profissão na qual o jornalista tem que aprender a programar. Não basta ter anos de experiência e uma rede de fontes e contato. A ideia é que o jornalista saiba usar melhor as redes digitais para pesquisar e encontrar dados e informações relevantes. Então, investigue dentro e fora da empresa as possibilidades de aprendizagem. Arrisque-se em novos projetos e amplie a possibilidade de desenvolver novas habilidades e conhecimentos.
  4. Seu trabalho/profissão pode ser dividido em tarefas e processos? Se você identificar que há muitas rotinas na execução de seu trabalho é provável que sua profissão esteja em risco! Nesse caso a solução não é mudar de carreira, mas repensar a profissão e o trabalho. O desenvolvimento de novas habilidades e o interesse em novos conhecimentos podem ser o caminho. Outra ideia importante aqui é pensar em qual tecnologia é importante você se requalificar para realizar o seu trabalho. Cada vez mais será necessário nos atualizarmos através de microlearning, método de ensino mais flexível, que consegue oferecer conhecimentos específicos em um tempo menor. Hoje, além de cursos e treinamentos presenciais, contamos com cursos on-line, aplicativos (Udacity e Udemy) e LinkedIn learning. Falando nisso, o próprio LinkedIn está evoluindo com o propósito de sugerir cursos de atualização a partir do que ele conhece de sua formação e da demanda do mercado.
  5. A cultura organizacional das empresas pelas quais passou não permitiram ou não permitem realizar o trabalho que tanto sonha? Este é uma situação muito difícil! A maioria da gestão das empresas é feita por uma geração analógico-digital. Nesse caso, não adianta necessariamente mudar de profissão, afinal o problema está nas organizações. Talvez seja o caso de buscar desenvolver suas habilidades de liderança para mudar essa cultura ou encontrar na sua profissão uma possibilidade mais empreendedora.
  6. O que te fez escolher sua profissão? Muitas vezes não paramos para pensar nisso. No meu trabalho com jovens e adultos, quando estão escolhendo ou repensando a profissão, algumas respostas se repetem quanto as motivações da escolha, como: escolher a profissão dos pais por acreditar ter caminhos prontos, as facilidades com algumas disciplinas do colégio e a situação de demanda de mercado da profissão. Normalmente não se investiga valores, propósitos ou mesmo o estilo de vida que a profissão permitirá levar. Uma dica aqui é retroceder ao passado e analisar: o que na infância e adolescência você gostava de fazer? Quais perguntas você se fazia? Sobre o que tinha curiosidade? Como sua profissão se conecta com as questões que estiveram na sua vida (e talvez ainda estejam, mesmo que adormecidas ou negligenciadas)?
Em resumo, os passos mais importantes a serem dados neste momento de angústia, desmotivação e insatisfação com a profissão, carreira e trabalho são: reflexão sobre o propósito de vida e da profissão que escolheu, alternativas de campo de atuação do trabalho e busca de atualização constantes de novas habilidades e conhecimentos dentro de sua profissão. Na minha opinião, a grande questão do momento é como podemos nos tornar #designersdofuturo. Isto é, identificar os motivos da insatisfação, conhecer as novas tecnologias e seu impacto no nosso trabalho e traçar alternativas para buscar novas habilidades e conhecimentos a serem desenvolvidos. Somente depois disto é que você deve realmente considerar mudar totalmente de profissão.

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