Uma provocação sobre o Propósito: O que você está fazendo da sua vida?


Por Júlia Ramalho
Paixão por ajudar a transformar pessoas e organizações na sua melhor versão

Você sabe o que te move e te dá energia? Quais os seus valores? Quais os seus sonhos? Qual o seu desejo? Por que você trabalha?

Ao longo do tempo, tenho escutado cada vez mais, em meu consultório e nos atendimentos de coaching, a urgência do propósito. Jovens e adultos dizem que não conhecem seu propósito. Falam isso com um tom de preocupação e uma enorme angústia. Executivos, médicos, advogados, entre outros profissionais com carreiras sólidas, se queixam de um vazio e afirmam que falta algo na realização do exercício de suas profissões.

Segundo os dicionários, propósito é aquilo que desejamos alcançar ou realizar. Hoje, no universo profissional, de acordo com o palestrante norte-americano Daniel Pink, cultuado como guru no mundo administrativo, propósito é o sentimento de fazer parte de algo maior. Para ele, esse sentimento está entre os três pilares da motivação.

Essa urgência pelo propósito, assim, pode estar relacionada ao fato de que as pessoas da geração atual não estão preocupadas apenas com os lucros e ganhos decorrentes de suas profissões. De acordo com o empresário Marcos Caetano, sócio da empresa de comunicação estratégica Brunswick Group e ex-diretor de Pessoas e Comunicação do Itaú Unibanco, os profissionais de hoje querem ganhar dinheiro, sim, mas estão preocupados principalmente em responder à seguinte pergunta: Por que me levanto todos os dias e vou trabalhar?  Afinal, como disse o executivo em um Fórum de que participou, “O propósito engaja as pessoas e funcionários engajados produzem muito mais”.

Como vimos no post anterior do blog sobre insatisfação com a carreira e o trabalho, mais da metade dos brasileiros estão descontentes com o que vêm desenvolvendo profissionalmente. E talvez a razão de tanta insatisfação esteja justamente no fato de que eles não sabem qual o seu propósito!

Será esse o motivo para a demanda por propósito ser cada vez maior?  

Gostaria de acreditar que sim, que estamos mais reflexivos, buscando entender melhor nossos desejos e os contornos que queremos dar às nossas existências. Mas, se isso fosse verdade, por que estaríamos buscando soluções cada vez mais rápidas, prontas e simplistas para questões tão complexas? Há uma demanda pelo propósito, mas também há uma pressa em descobri-lo. Como se fosse necessário adquirir um propósito com urgência, como se estivéssemos comprando uma roupa ou um celular.

Houve um tempo, não muito distante, em que o propósito não estava em pauta de forma tão imperativa. A questão se reservava aos consultórios de psicologia com abordagens humanistas e existencialistas, ou ele aparecia disfarçado como desejo. Afinal, esse sempre foi o guia do trabalho de análise. Nesse tempo, a maioria das pessoas seguiam roteiros sem muito questionar o sentido da vida que queriam levar. Estudavam porque tinham que estudar, trabalhavam porque tinham que trabalhar, se casavam porque tinham que se casar... era assim que a vida tinha que ser!

As pessoas podiam não ver sentido no estudo, no casamento, na família ou na profissão, mas fazia parte da vida tomar essas decisões e seguir os scripts sociais sem muito questionamento. Mas é claro que sempre houve momentos de insatisfação com as escolhas feitas por cada pessoa! No entanto, a rigidez da sociedade e das instituições estabelecidas, de alguma forma, sustentava essas opções. Aqueles que se sentiam angustiados buscavam nas terapias apoio para sua jornada de autoconhecimento.

Mas... como o cenário mudou! Hoje nos constituímos em meio a sociedades e instituições menos rígidas e, assim, nossas escolhas também estão se tornando mais fluidas. O “propósito” chegou como uma nova palavra de ordem no discurso social, assim como antes tinha acontecido com a “felicidade”. O imperativo da felicidade dos últimos anos aparece numa infinidade de soluções prontas e à venda para que todos possam – e, mais ainda, tenham que – ser felizes.

Agora, a nova onda é o “propósito”!

Se podemos tudo, por que seguir a vida suportando o que não nos satisfaz? Por que não ter um trabalho mais feliz e com propósito? Perguntas ótimas para sujeitos autênticos e que se empoderam de suas vidas! 

O que sabemos é que as fórmulas prontas para a vida e o trabalho nunca funcionaram. Por outro lado, encarar esses processos de forma séria significa mexer em várias coisas que estão estabelecidas. Afinal, o propósito não é como uma calça que se compra para estar na moda e parecer diferente. Não, meu caro! O propósito é um processo que tem a ver com revelar aquilo que está dentro de você e de que você ainda não se deu conta. Por isso, descobrir qual é o seu propósito não é garantia de que você vá ter sucesso na vida. Nem de que conseguirá construir uma carreira na qual ganhe milhões e milhões. Para revelar seu propósito, é preciso se desvestir do que disseram ser certo e encontrar as coisas que fazem sentido para você. Mesmo que isso não faça sentido para mais ninguém! E para conseguir isso não existe processo “vapt vupt”, muito menos uma receita com os “dez passos a seguir para encontrar seu propósito”. É preciso coragem para suportar sermos o que queremos ser. 

Na minha opinião, para encontrar seu propósito na vida e no trabalho você deve, primeiramente, se certificar de que está fazendo as perguntas certas. Se você está conectado com o que te emociona, se você sabe o que te energiza, se você conhece aquilo que te dá coragem, você vai encontrar seu propósito. Fique tranquilo! Ele pode ter muitos nomes e, sim, ele pode mudar a forma de expressão ao longo da vida. Mas uma coisa é certa: ninguém pode fazer isso por você! Ou você está imaginando que vai encontrar seu propósito na prateleira de um supermercado?


Quer receber mais informações? Então clique aqui.

Júlia Ramalho reside em Belo Horizonte (Brasil) e ajuda pessoas e organizações a revelarem o seu melhor, ao clarear propósitos, ver possibilidades diante as incertezas e manter foco nas ações necessárias. Faz isso há mais de18 anos através de atendimentos em coaching e clínicos. Possui formação como psicóloga, coach e administradora, sendo também mestra nesta última área. Desde 2005 vem investigando as novas tecnologias e seus impactos sobre o trabalho e as futuras gerações. Como gestora, dirige a Estação do Saber [www.estacaodosaber.com] e foi presidente fundadora da International Coach Federation – Chapter Minas. Coordenou projetos de discussão sobre as novas tecnologias (ETC_BH -2009 a 2013) e de transformação da nossa cultura e sociedade (Estação Pátio Savassi – 2005 a 2013). Atualmente se dedica à construção de uma metodologia de orientação de carreiras através de conhecimentos de coaching, design thinking e análise de forças tecnológicas como inteligência artificial, internet das coisas e realidade virtual, dentre outras. Coordena e participa do grupo designers do futuro, que tem por objetivo promover discussões sobre o impacto dessas tecnologias em carreiras, gestão e sociedade.


Comentários