Faltam habilidades para o mercado de trabalho?


Por Júlia Ramalho
Paixão por ajudar a transformar pessoas e organizações na sua melhor versão.


Há a algumas semanas venho falando do futuro do trabalho. Sabe-se que, com a evolução da tecnologia, o mercado profissional está mudando e exigindo do trabalhador não só um outro olhar para sua profissão, mas também novos conhecimentos e habilidades. No último post falamos sobre a importância da comunicação, uma das habilidades mais requisitadas nesse novo mercado. Mas, o que muitos não sabem, é que na América Latina se vivencia uma grande ausência de mão de obra qualificada para atender às necessidades de desenvolvimento da região, que contemple a globalização e o avanço das tecnologias.

É isso mesmo! Apesar do grande número de pessoas desempregadas por aqui, os empresários reclamam da falta de trabalhadores capacitados para as demandas do mercado atual. Isso é consenso em todo o mundo e foi tema de discussão no Fórum Econômico Mundial/América Latina (FME), realizado em março deste ano, no Brasil.

Segundo pesquisas da ManpowerGroup, mais de quatro em cada dez empresas na América Latina afirmam ter dificuldade para encontrar trabalhadores com as habilidades certas. Essa realidade contrasta com a da Europa e a da Ásia, regiões em que a renda per capita tem crescido devido aos investimentos em educação, desenvolvimento de habilidades e construção de um ambiente amigável à inovação.

Por aqui, dois em cada cinco jovens não estudam nem trabalham, e 55% dos profissionais da região trabalham na economia informal. Além disso, esses dados refletem o aumento da complexidade das habilidades hoje necessárias ao trabalho, assim como a rápida velocidade com que essas habilidades se alteram.

E o que fazer para preencher esse gap na América Latina?

O que o FME propõe é o que já estamos afirmando há tempos com os #designersdofuturo. Precisamos de currículos educacionais mais atualizados e programas de desenvolvimento de habilidades tanto técnicas quanto sociais. Esses aspectos são críticos para a vida das pessoas e podem ajudá-las a trocar de trabalho ou a se adaptarem às condições de um mercado que não para de mudar. Seria necessária uma combinação de aulas/conteúdo e novas experiências para desenvolver essas habilidades.

Afinal, segundo o FME, formar novas habilidades ou melhorar as habilidades já existentes é o novo nome do jogo. São as habilidades desta nova “força de trabalho” que vão ditar o rumo da economia nas próximas duas décadas.

Petriglieri, professor do Insead, afirma que a grande narrativa tem sido a transição de um contrato social baseado em lealdade para um contrato transacional, onde as organizações nos veem como um saco de habilidades e nós as vemos como oportunidades ofertadas (demandas).

Nesse sentido, saber como as pessoas estão se desenvolvendo e conhecer as necessidades de habilidades para os negócios se torna fundamental.

A pesquisa global do ManpowerGroup aponta também para outro aspecto que tenho destacado em minhas publicações: a decomposição das profissões em tarefas. O estudo é orientado por habilidades em demanda, e não por profissões. Alguns autores chamam esse processo de “taylorismo digital”, dada a intensidade de fragmentação que as profissões começam a sofrer num ambiente que é cada vez mais tecnológico e digital.

Na pesquisa, participaram mais de 42.300 empregadores de 43 países, e 40% deles relataram encontrar dificuldades para preencher vagas de trabalho – o maior percentual desde 2007. Em 2016, as principais habilidades demandadas pelas empresas e que elas não conseguiram, ou tiveram dificuldades, em encontrar nos profissionais foram:

  1. Serviços: eletricistas, carpinteiros, soldadores, pedreiros, estucadores, encanadores
  2. TI: desenvolvedores e programadores, banco de dados, administradores, líderes e gerente
  3. Vendas: executivos de vendas, assessores de vendas e vendedores de varejo
  4. Engenheiros: mecânica, elétrica e engenheiros civis
  5. Técnicos: produção, operações ou manutenção técnicos
  6. Motoristas: de caminhão, para entrega de mercadorias, para construção
  7. Contabilidade e Financeiro: contadores certificados e analistas financeiros
  8. Gestão/Executivos: sênior e diretoria, gerentes de nível
  9. Produção/Máquina: operadores de maquinário especial
  10. Suporte do Office: secretários, recepcionistas e administrativo

Os principais motivos da dificuldade de preencher as vagas em serviços foram:
  • 24% - falta de pessoas se aplicando para as vagas;
  • 19% - falta de conhecimento técnico;
  • 19% - falta de experiência;
  • 14% - pretendiam ganhar mais que o oferecido; e
  • 11% - falta de habilidades sociais.

O que fazer para mudar essa realidade?

O primeiro passo é entender as mudanças pelas quais sua profissão vem passando e qual o papel delas no mundo tecnológico. A partir disso, você pode identificar e investir nas habilidades certas e necessárias para o melhor desempenho de sua função na empresa.

Em termos políticos, é fundamental expandir e elevar a qualidade da educação: antecipar as necessidades de habilidades, detectar as incompatibilidades de habilidades futuras e construir os processos necessários para garantir que essas informações sejam efetivamente usadas na tomada de decisões.

As habilidades têm um poder tão grande que vêm sendo consideradas a nova moeda global da economia do século XXI, contribuindo para estimular o crescimento e reduzir as desigualdades. Segundo o pesquisador do campo da educação, Andreas Schleicher, sem o investimento adequado em habilidades as pessoas vão definhar à margem da sociedade, o progresso tecnológico não se traduzirá em crescimento econômico e os países não poderão mais competir globalmente em uma sociedade cada vez mais baseada no conhecimento.

De um lado, é necessário um grande envolvimento do poder público e das empresas para acelerar o desenvolvimento de novas habilidades. Mas, de outro, precisamos de pessoas que levem a sério a ideia de lifelong learning (ou aprendizado ao longo da vida). E é nesse sentido que precisamos saber quais são nossas principais habilidades de modo a torná-las cada vez melhores, ou identificar quais habilidades precisaremos desenvolver para ampliar nossas possibilidades em um mercado que, cada vez mais, vai recorrer às habilidades nos processos de contratação.

E você, já identificou quais habilidades são fundamentais para o desenvolvimento de suas tarefas no trabalho, agora e no futuro? Já começou a aprimorar suas principais habilidades? E a desenvolver novas? Como você destaca suas habilidades e como conta suas histórias sobre elas?

Júlia Ramalho reside em Belo Horizonte (Brasil) e ajuda pessoas e organizações a revelarem o seu melhor, ao clarear propósitos, ver possibilidades diante das incertezas e manter foco nas ações necessárias. Faz isso há mais de 18 anos por meio de atendimentos em coaching e clínicos. Possui formação como psicóloga, coach e administradora, sendo também mestra nessa última área. Desde 2005 vem investigando as novas tecnologias e seus impactos sobre o trabalho e as futuras gerações. Como gestora, dirige a Estação do Saber [www.estacaodosaber.com] e foi presidente fundadora da International Coach Federation – Chapter Minas. Coordenou projetos de discussão sobre as novas tecnologias (ETC_BH -2009 a 2013) e de transformação da nossa cultura e sociedade (Estação Pátio Savassi – 2005 a 2013). Atualmente se dedica à construção de uma metodologia de orientação de carreiras através de conhecimentos de coaching, design thinking e análise de forças tecnológicas como inteligência artificial, internet das coisas e realidade virtual, dentre outras. Coordena e participa do grupo designers do futuro, que tem por objetivo promover discussões sobre o impacto dessas tecnologias em carreiras, gestão e sociedade.

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