Por Rafaela Lamego
Gera um mundo mais empático através
da transformação de pessoas e
identificação de carreiras com
propósitos.
e Júlia Ramalho
Transformadora de pessoas e empresas na sua melhor versão.
A situação
São 16 horas. Você trabalha numa agência bancária e é
hora do fechamento da agência. Do outro lado da rua, você visualiza uma senhora
com dificuldade de locomoção tentando atravessar a rua. Quinze minutos depois esta
senhora, ofegante, bate no vidro fechado da agência. Ela segura um papel em mãos
e está atordoada. Você ouve o que ela tenta te falar através da porta da
agência, que já está fechada. Ela te conta que precisa transferir um dinheiro
para o neto. Ele precisa comprar o medicamento do pai, que acabou ontem. Caso
ele fique sem este medicamento, a doença pode retornar de forma devastadora nas
próximas 24 horas. Você está cansada, a agência e os caixas já fecharam. O que
você faz?
A confusão...
Muitos confundem empatia com simpatia. Simpatia é a
capacidade de ser agradável, e empatia é a capacidade de sentir a dor de outra
pessoa. Ser legal pode ser uma virtude importante, mas a empatia, na sua
essência, é algo diferente e mais profundo. É a tentativa de ver o mundo
através dos olhos dos outros, de compreender o mundo por meio das expectativas
alheias e de sentir o mundo por suas emoções (Tim Brown). Empatia é uma escolha vulnerável. Isto é, para me conectar com você, preciso me conectar com
algo em mim que conheça o seu sentimento.
Empatia
Empatia significa, portanto, a capacidade psicológica,
emocional e cognitiva de sentir o que a outra pessoa sente. Consiste em
tentar compreender sentimentos, emoções e razões procurando experimentar
projetivamente o que sente o outro indivíduo.
A empatia nos ajuda a compreender melhor o
comportamento do outro em determinadas circunstâncias e a entender mais sobre
os parâmetros que o outro utiliza para tomar suas decisões.
A forma como nos relacionamos com nosso semelhante,
com a sociedade, com a natureza e com o mundo ao nosso redor afeta diretamente
a nossa capacidade produtiva. No caso acima, se você tem uma boa empatia,
provavelmente encontrará uma forma de ajudar esta cliente a fazer a
transferência dela, mesmo que isso signifique que você terá mais trabalho. Irá fazer por que você consegue
sentir o que essa senhora está passando, consegue vislumbrar os pensamentos
desesperados de quem necessita de ajuda, consegue enxergar a necessidade
estampada nos olhos dela, consegue escutar daquela voz trêmula o grito de
socorro reprimido, e, assim, sem questionar-se acerca do trabalho extra, assumirá
a demanda do outro e a resolverá.
A empatia como diferencial para o futuro do trabalho
É certo que o futuro das profissões passará por
grandes reviravoltas, a começar pelo impacto da tecnologia, que já vem
reformulando o escopo do trabalho e exigindo o desenvolvimento de novas
competências. O modus operandi de
antigamente (autoritário e pré-organizado) não se sustentará por muito tempo.
Cada vez mais o trabalho será digital, baseado em dados e disruptivo. Saber se
conectar com as emoções das pessoas nos diferenciará das máquinas e nos ajudará
a visualizar oportunidades distintas de trabalho.
O desafio...
A empatia nos permite sair de nós mesmos. Ela nos
ajudará a ir além de toda a tecnologia disponível para nos conectarmos ao
outro. A facilidade de se conectar digitalmente e as inúmeras redes sociais
acessíveis proporcionaram um paradoxo. Na medida em que podemos nos conectar
mais com as pessoas, temos nos tornado mais focados em nós mesmos. Embora
tenhamos conexões, isso não significa que estejamos conectados (Sherry Turkle).
O mundo digital nos tornou mais egoístas: não é à toa que o self, e o selfie, se tornaram tão populares.
Uma pesquisa da
Universidade Estadual de Michigan (EUA) realizada em 61 países, com 104 mil
pessoas, mediu a compaixão e a empatia em situações hipotéticas. O Brasil ficou
em 51º na lista, atrás de países como Equador, Arábia Saudita, Peru, Dinamarca
e Emirados Árabes, por exemplo. [Você pode acessar a pesquisa completa
aqui: https://www.sciencealert.com/the-most-empathetic-countries-in-the-world-have-just-been-ranked]
A urgência da empatia tem se tornado tão séria que, em
2016, Londres recebeu o Museu da Empatia, fundado por Roamn Krznaric. O filósofo explica muito bem a
importância da empatia e alerta que ela seria o antídoto para o individualismo do mundo contemporâneo. E ressalta:
empatia é muito mais que melhorar
relacionamentos, é na verdade uma radical mudança social para melhorar o mundo.
Assim ele levanta a bandeira da “revolução da empatia”, que nada mais é que um
convite para que tentemos reverter os baixos índices de empatia no mundo.
A empatia é o que mais nos aproxima daquilo que nos
torna humanos, a nossa capacidade de nos conectarmos e de nos emocionarmos. Não
restam dúvidas, portanto, de que precisamos desenvolver esta competência. E a
tecnologia só faz pressionar ainda mais a necessidade de potencializarmos essa
competência, uma vez que ela nos está tornando, de certa forma, mais
individualistas.
Se os profissionais continuarem focando apenas
nas competências técnicas, tão valorizadas até então, a competição Humanos versus Máquinas estará fadada ao
fracasso, no caso, para nós. Literalmente, se seguirmos o jogo neste formato, entraremos
em uma competição desumana, na qual as máquinas provavelmente nos derrotarão em
qualidade e em tempo.
E então, vamos começar a assumir o papel humano e
empático que nos cabe neste mundo e no mundo das profissões? Aquele papo
de separar o pessoal do profissional já está ultrapassado: precisamos trazer
nossas competências humanas para o trabalho.
7 atitudes para desenvolver a empatia
- Compreenda sentimentos e emoções dos que o cercam: antes
de julgar e criticar, coloque-se no lugar do outro, buscando entender os
motivos das atitudes deles.
- Concentre-se nas pessoas e aprenda a ouvir: uma grande
qualidade das pessoas empáticas é sua capacidade de escuta. Se você ainda
não sabe o que é ser um bom ouvinte, confira o post anterior: http://designersdofuturo.blogspot.com.br/2017/06/4-escuta-voce-sabe-mesmo-ouvir.html
- Trate o outro como ele gostaria de ser tratado: não
faça ao outro o que você gostaria de fazer para você, faça a ele o que ele
gostaria de receber.
- Amplie sua visão e busque novas perspectivas
para entender a lógica do outro: para entender as pessoas que agem de modo
distinto ou que têm atitudes e pontos de vista completamente diferentes dos
seus, use as referências delas, e não as suas.
- Trabalhe as competências sociais: todos nós temos essas
competências, precisamos apenas potencializá-las.
- A comunicação é uma competência essencial em
qualquer relação e está diretamente ligada à empatia. Use a comunicação não
violenta: ela minimiza resistências e conflitos, além de estabelecer relações
sustentáveis.
- Torne-se consciente das barreiras sociais, culturais
e de valores. Identifique como funciona seu interlocutor e tente alinhar os
significados de ambos para que a relação flua.
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Mande pra gente sugestões de atitudes empáticas,
compartilhe este artigo com o maior número de gente possível, promova debates
saudáveis e humanos. Ajude-nos a disseminar a empatia pelo mundo do trabalho e
na sociedade em geral! Sentir a dor dos clientes antes de eles mesmos a sentirem
proporcionará fidelização, gerará inovação, criará ofertas em sinergia com as
demandas (mesmo que estas ainda sejam inconscientes) e ainda ajudará na construção de um
mundo mais humano e melhor.
Sobre as autoras:
Rafaela Lamego reside em Londres e empatia é
um dos seus grandes valores. Ela tem como propósito de vida gerar um mundo mais
empático, e faz isso através da transformação de pessoas e da identificação de
carreiras com propósitos. De formação, ela é psicóloga e coach. Atuou por
vários anos no Board da área de RH em empresas nacionais e multinacionais no
Brasil, América Latina e Europa. Atualmente é Coach de Carreira e Mentora
de Gente e Gestão na Bespoke Carrer Development [www.bespokecareerdevelopment.com], na qual faz
atendimentos presenciais e on-line. Vem participado do grupo dos designers do futuro através de
discussões sobre o impacto das novas tecnologias nas carreiras e na gestão.
Júlia Ramalho reside em Belo
Horizonte (Brasil) e ajuda pessoas e empresas a revelarem o seu melhor, ao
clarear propósitos e manter foco nas ações necessárias. Faz isso há mais de18
anos de atendimentos em coaching e clínicos. Possui formação como psicóloga,
coach e administradora, sendo também mestra nesta última área. Desde 2005 vem investigando
as novas tecnologias e seus impactos sobre o trabalho e as futuras gerações.
Como gestora, dirige a Estação do Saber [www.estacaodosaber.com] e foi
presidente fundadora da International Coach Federation – Chapter Minas.
Coordenou projetos de discussão sobre as novas tecnologias (ETC_BH -2009 a
2013) e de transformação da nossa cultura e sociedade (Estação Pátio Savassi –
2005 a 2013). Atualmente se dedica à construção de uma metodologia de orientação
de carreiras através de conhecimentos de coaching, design thinking e análise de
forças tecnológicas como inteligência artificial, internet das coisas e
realidade virtual, dentre outras. Coordena e participa do grupo designers do futuro, que tem por objetivo promover discussões sobre o impacto dessas
tecnologias em carreiras, gestão e sociedade.
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